Trabalho é lugar de fazer política?
Nem só de entregas se constrói uma trajetória de sucesso
Essa é uma pergunta realmente desconfortável e que muitas vezes temos uma resposta pronta, sem pensar muito.
Quando falamos em política, muita gente pensa automaticamente em disputas de poder, jogos de interesse ou comportamentos antiéticos. Mas a verdade é que política vai muito além disso. Ela está presente em todas as relações humanas, inclusive (e especialmente) no ambiente de trabalho. Afinal, onde há tomada de decisão, influência e negociação, há política. E se você está inserido em uma organização, você já está fazendo política. A questão é: de que forma?
Vale esclarecer: não estou falando de politicagem, ou seja, aquela prática negativa que envolve bajulação, manipulação ou prejudicar colegas para se dar bem. Estou falando especialmente de inteligência relacional. Isso significa a capacidade de influenciar, negociar, articular interesses e navegar nas relações de poder com ética e clareza.
Fazer política no trabalho exige método. Parte de compreender o ambiente em que estamos inseridos, prever tendências e se posicionar com estratégia para aumentar nossa relevância e visibilidade. Isso não é um detalhe. É uma competência crítica para quem quer crescer profissionalmente.
É comum ouvirmos que “quem trabalha muito não é valorizado”, enquanto outras pessoas, aparentemente menos qualificadas, sobem de cargo. Isso gera frustração e dúvidas sobre mérito. Mas aqui está um erro frequente: confiar apenas na entrega técnica, sem considerar o como, pra quem e com quem se entrega.
Crescer na carreira envolve mais do que esforço. Envolve leitura de cenário, posicionamento e articulação. Afinal: você sabe como sua performance é avaliada? Sabe quem realmente decide sobre sua promoção? Conhece os critérios, os bastidores, os fluxos?
Esse tipo de inteligência pode, e deve, ser desenvolvida. A isso chamamos de Inteligência Política, e ela se apoia em quatro pilares:
1. Autoconhecimento
É a base de tudo. Saber seus pontos fortes, reconhecer seus limites e entender como você se comunica. Isso permite ajustar o discurso, o tom e o posicionamento conforme cada situação. Quem se conhece bem consegue agir com mais assertividade e menos ruído.
2. Leitura do ambiente e do contexto
Aqui entra a capacidade de perceber a cultura da organização, tanto a formal (valores, missão, processos) quanto a informal (regras tácitas, alianças internas, o que realmente pesa nas decisões). Saber onde você está pisando é essencial para não jogar contra o próprio time.
3. Leitura de pessoas
Aprofunda a escuta ativa, a empatia e a capacidade de observar os outros com inteligência. Quem são as lideranças formais e informais? Quem influencia decisões? Como essas pessoas se comunicam e o que valorizam? Saber disso é chave para construir alianças, adaptar a linguagem e fortalecer vínculos.
4. Estratégia
Com os três pontos anteriores mapeados, você tem os elementos para agir com clareza. Estratégia não é manipulação. É saber aonde se quer chegar e como chegar lá, usando os recursos certos, no tempo certo e com as pessoas certas. Isso inclui a gestão da própria imagem, da narrativa e da presença nas decisões.
E você, já tinha pensado em política sob essa perspectiva?
Como tem sido sua experiência no ambiente de trabalho com relação a isso?Compartilhe nos comentários. Sua vivência pode enriquecer a conversa e ajudar outras pessoas a enxergar o valor da inteligência política no dia a dia profissional. Vamos ampliar esse diálogo?
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